27 de abril de 2009
Os biellenses, gente dura
Certo dia, um camponês descia para Biella. O tempo estava tão feio que quase não dava para andar pela estrada. Mas o camponês tinha um compromisso importante e continuava a caminhar de cabeça baixa, enfrentando a chuva e a tempestade.
Encontrou um velho que lhe disse:
"Bom dia! Aonde vai, bom homem, com tanta pressa?"
"Para Biella," disse o camponês sem se deter.
"Poderia dizer ao menos: 'se Deus quiser.'"
O camponês parou, encarou o velho e contestou:
"Se Deus quiser vou para Biella; e, se Deus não quiser, vou do mesmo jeito."
Ora, aconteceu que aquele velho era o Senhor.
"Então, você irá para Biella dentro de sete anos," disse-lhe. "Nesse ínterim, dê um mergulho naquele pântano e fique por lá sete anos."
E o camponês se transformou em rã de um só golpe, deu um salto e sumiu no pântano.
Passaram-se sete anos. O camponês saiu do pântano, virou homem, enfiou o chapéu na cabeça e retomou a estrada para o mercado.
Após alguns passos, eis de novo aquele velho.
"Aonde é que vai, bom homem?"
"Para Biella."
"Poderia dizer: 'se Deus quiser.'"
"Se Deus quiser, melhor; caso contrário, já conheço as regras, e posso ir sozinho para o pântano."
E não houve jeito de arrancar nem mais uma palavra dele.
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CALVINO, Italo. Fábulas italianas. [trad. Nilson Moulin]. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 79.
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