13 de setembro de 2022

DUNKER, Christian Ingo Lens. "Psicologia das massas digitais e análise do sujeito democrático". IN: ABRANCHES, Sérgio et al. Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 116-7.

      Há situações psíquicas, no interior das quais deixamos de adquirir ou perdemos nossa capacidade de uso autônomo da razão, por exemplo, quando estamos apaixonados, hipnotizados ou sob funcionamento de massa. Nesses casos, suspendemos nossa crença na palavra como instância de mediação de conflitos, resistimos a escutar o outro e podemos nos lançar em atividades impulsivas, cujo objetivo é suspender o trabalho da lembrança e do pensamento (acting out). Tendemos a esquecer ou a evitar lembrar aspectos dolorosos de nós mesmos e de nossa própria história. A descrição clássica do estado de massa envolve o contágio de afetos, como os que se observa em uma multidão enfurecida, um exército em pânico ou uma assembleia de religiosos em comoção. No estado de massa somos tomados por uma espécie de amnésia e de falsa coragem, e dizemos e fazemos coisas que nunca nos autorizaríamos se estivéssemos sozinhos, com nossa consciência.