30 de março de 2020

Pessimismo

      “− Sabe a diferença entre um otimista e um pessimista?
      − ?
      − O pessimista é um otimista bem informado.”
      Essa adivinha, que nos veio da Europa Central, é, ela própria, pessimista. É por isso talvez que nos divirta: porque vemos nela uma espécie de círculo vicioso, sem que isso seja o bastante para refutá-la.
      O que é o pessimismo? É ver as coisas pelo pior (pessimus) ângulo, seja por considerar que há mais males do que bens, seja por pensar que os males vão se agravar. No sentido filosófico, o pessimismo se inclui na primeira categoria: é muito mais um pessimismo atual do que prospectivo (dado que Schopenhauer é o grande pensador do pessimismo, assim como Leibniz é do otimismo). No sentido corrente, o pessimismo tem mais a ver com a segunda categoria, isto é, com o futuro, que ele imagina pior que o presente. A velhice e a morte parecem lhe dar razão, pelo menos no caso do indivíduo, assim como o progresso e a religião, de uma maneira diferente, dão-na ao otimismo. Só faltava fazer do progresso uma religião, para que o pessimismo fosse definitivamente derrotado (pelo menos, é o que se podia crer). Daí as utopias e os diferentes messianismos que, desde o século XIX, não cessaram de nos oferecer novas razões para ter esperança... Infelizmente, só nos deram novas razões para desconfiar... dos otimistas.

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COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário filosófico. [trad. Eduardo Brandão]. São Paulo: Martins Fontes, 2011. pp. 452-3.