Mas no meio de tudo isso, fora disso, através disso, apesar disso tudo – há o amor. Ele é como a lua, resiste a todos os sonetos e abençoa todos os pântanos.
Rio, setembro, 1957
Mas no meio de tudo isso, fora disso, através disso, apesar disso tudo – há o amor. Ele é como a lua, resiste a todos os sonetos e abençoa todos os pântanos.
Rio, setembro, 1957
(...) não importa tratar-se de Hermes [Trismegisto] ou dos sábios de Sion, a diferença entre verdadeiro e falso não interessa aos que já começam pelo preconceito, pela vontade, pelo anseio de que lhes seja revelado um mistério, algum tumultuante prelúdio no céu ou no inferno.
São muitas as razões pelas quais a maioria dos eleitores de maior poder aquisitivo votou em Bolsonaro. Razões ideológicas, classistas, raciais, econômicas, éticas, psicológicas. Embora seja impossível isolar um motivo único, convém lembrar que ao longo desses últimos quatro anos não faltaram pronunciamentos de certas lideranças do setor privado – de donos de redes varejistas a agentes do mercado financeiro, de pecuaristas e cultores a empresários do setor de transporte – sobre como, no novo governo, os negócios enfim se livraram das travas usuais do Estado brasileiro e supostamente puderam avançar. Bolsonaro era bom para o balanço mensal. Ameaças ao estado de direito, apologia da violência e da tortura, estímulo enérgico à posse e ao porte de armas, devastação ambiental, infiltração de dogmas religiosos nas políticas públicas, deboche dos sofrimentos causados pela pandemia, aviltamento da cultura e das artes, desprezo pela história e pelos direitos dos povos indígenas, desmonte da educação e do sistema nacional de ciência e tecnologia, charlatanismo médico, degradação dos valores cívicos do país - para esse segmento não desconsiderável das classes dominantes do país, para essa fatia das oligarquias nacionais, o conjunto dessas catástrofes públicas não se sobrepôs aos benefícios privados.
Muitas de nossa verdadeiras propriedades, como a inveja, a vaidade e a agressividade, são negadas e vão para o porão do inconsciente, de onde influenciam dramaticamente a conduta real da maior parte das pessoas, mesmo daquelas que se pretendem mais idealistas e despojadas.
Há situações psíquicas, no interior das quais deixamos de adquirir ou perdemos nossa capacidade de uso autônomo da razão, por exemplo, quando estamos apaixonados, hipnotizados ou sob funcionamento de massa. Nesses casos, suspendemos nossa crença na palavra como instância de mediação de conflitos, resistimos a escutar o outro e podemos nos lançar em atividades impulsivas, cujo objetivo é suspender o trabalho da lembrança e do pensamento (acting out). Tendemos a esquecer ou a evitar lembrar aspectos dolorosos de nós mesmos e de nossa própria história. A descrição clássica do estado de massa envolve o contágio de afetos, como os que se observa em uma multidão enfurecida, um exército em pânico ou uma assembleia de religiosos em comoção. No estado de massa somos tomados por uma espécie de amnésia e de falsa coragem, e dizemos e fazemos coisas que nunca nos autorizaríamos se estivéssemos sozinhos, com nossa consciência.