29 de agosto de 2012

ABREU, Caio Fernando. A vida gritando nos cantos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. p. 33.

      Meu amigo Cláudia é uma das pessoas mais dignas que conheço. E aqui preciso me deter um pouco para explicar o que significa, para mim, "digno" ou "dignidade". Nem é tão complicado: dignidade acontece quando se é inteiro. Mas que quer dizer ser "inteiro"? Talvez quando se faz exatamente o que se quer fazer, do jeito que se quer fazer e da melhor maneira possível. A opinião alheia, então, torna-se detalhe desimportante. O que pode resultar - e geralmente resulta mesmo - numa enorme solidão. Dignidade é quando a solidão de ter escolhido ser, tão exatamente quanto possível, aquilo que se é dói muito menos do que ter escolhido a falsa solidão de ser o que não se é, apenas para não sofrer a rejeição tristíssima dos outros.
(...)
O Estado de S. Paulo, 17/06/1986

16 de agosto de 2012

Diamante

O amor seria fogo ou ar
em movimento, chama ao vento;
e no entanto é tão duro amar
este amor que o seu elemento
deve ser terra: diamante,
já que dura e fura e tortura
e fica tanto mais brilhante
quanto mais se atrita, e fulgura,
ao que parece, para sempre:
e às vezes volta a ser carvão
a rutilar incandescente
onde é mais funda a escuridão;
e volta indecente esplendor
e loucura e tesão e dor.


______
CICERO, Antonio. Porventura. Rio de Janeiro: Record, 2012. p. 27.