18 de junho de 2025

Humor

É uma forma de graça, mas que faz rir principalmente do que não é engraçado. Por exemplo, o condenado à morte, evocado por Freud, que conduzem numa segunda-feira ao patíbulo: “A semana está começando bem!”, murmura ele. Ou Woody Allen: “Não só Deus não existe, mas tentem encontrar um encanador no fim de semana!” Ou Pierre Desproges anunciando sua doença ao público: “Se você for mais canceroso que eu, está morto!” Isso supõe um trabalho, uma elaboração, uma criação. Não é o real que é engraçado, mas o que dele se diz. Não seu sentido, mas sua interpretação – ou sua falta de sentido. Não o prazer que nos oferece, mas o que sentimos ao constatar que ele não propõe nenhum que possa nos satisfazer. Conduta de luto: buscamos um sentido; constatamos que ele falta ou se destrói; rimos do nosso próprio fracasso. E isso, porém, é como um triunfo do espírito.

O humor se distingue da ironia pela reflexividade ou pela universalidade. O ironista ri dos outros. O humorista, de si ou de tudo. Ele se inclui no riso que provoca. É por isso que nos faz bem, ao pôr o ego à distância. A ironia despreza, exclui, condena; o humor perdoa ou compreende. A ironia fere; o humor cura ou aplaca.

Há algo de trágico no humor; mas é um trágico que se recusa a levar-se a sério. Ele trabalha sobre as nossas esperanças, para assinalar seu limite, sobre nossas decepções, para rir delas, sobre nossas angústias, para superá-las. “Não é que eu tenha medo da morte”, explica por exemplo Woody Allen, “mas preferiria estar em outro lugar quando ela ocorrer”. Defesa derrisória? Sem dúvida. Mas que assim se confessa e que indica muito bem, contra a morte, que todas as defesas o são. Se os fiéis tivessem senso de humor, que restaria da religião?


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COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário filosófico. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 287.

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