15 de junho de 2025

FERNANDES, Millôr. Livro vermelho dos pensamentos de Millôr. Rio de Janeiro: Nórdica, 1974. p. 103.

É fundamental aprender a conviver com o medo, perder o mais cedo possível a esperança de nos livrarmos dele. Guimarães Rosa disse com sabedoria: "A cada dia, a cada hora, o homem aprende uma espécie nova de medo". Vivemos com medo físico, com medo econômico, com o medo metafísico diante da própria ameaça existencial que faz de nossos dias uma caminhada irreversível para a doença, para a velhice e para a morte: para o desastre. O medo é a mais fiel de nossas qualidades, nosso definitivo companheiro. Mesmo no silêncio e no escuro – ou sobretudo aí – não nos deixa. Quando o lugar é terrível, a situação desesperadora, as forças nos abandonam, a coragem nos deixa, o medo fica e cresce. Segue-nos como uma sombra e, inúmeras vezes, se confunde com ela. Nasce conosco e, se nos mata, morre conosco.

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