5 de outubro de 2024

ONFRAY, Michel. A política do rebelde: tratado de resistência e insubmissão. [trad. Mauro Pinheiro]. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. p. 79.

A religião do trabalho fez do desempregado um mártir. O fervor que ela exige e os sacrifícios que espera transformaram os solicitantes de emprego em pecadores e em penitentes que podem obter o perdão e a salvação à medida que merecerem e receberem uma redenção à custa da impassibilidade e da submissão às necessidades das leis, se não da fatalidade, pelo menos de um mercado que faz reinar seu terror por meio da penúria organizada do trabalho no lugar da partilha.

ONFRAY, Michel. A política do rebelde: tratado de resistência e insubmissão. [trad. Mauro Pinheiro]. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. pp. 72-3.

O diploma atesta e certifica a utilização correta da razão, quer dizer, sua execução segundo os costumes sociais confirmados, mas certamente não em virtude da pura inteligência ou da inventividade radical.

ONFRAY, Michel. A política do rebelde: tratado de resistência e insubmissão. [trad. Mauro Pinheiro]. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. p. 72.

Os velhos e as velhas, aos quais são negados todos os direitos salvo o de ser ainda consumidor e gastar de sua aposentadoria no jogo social consumista, sofrem progressivamente a privação de toda arrogância permitida aos jovens: sem sensualidade, nem sexualidade triunfante, uma vida privada que se quer modesta e discreta. Empurrados docilmente em direção à saída, os afagamos, conservamos e veneramos, desde que reciclem suas economias dentro da máquina social.

19 de setembro de 2024

CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. [trad. José Thomaz Brum]. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 53.

Se a História tivesse uma finalidade, como seria lamentável o destino daqueles que, como nós, nada fizeram na vida. Mas no meio do absurdo geral, nos erguemos triunfantes, nulidades ineficazes, canalhas orgulhosos de haver tido razão.

CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. [trad. José Thomaz Brum]. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 47.

Só vivo porque posso morrer quando quiser: sem a ideia do suicídio já teria me matado há muito tempo.

CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. [trad. José Thomaz Brum]. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 31.

Com tuas veias carregadas de noites, te encontras entre os homens como um epitáfio no meio de um circo.

16 de setembro de 2024

CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. [trad. José Thomaz Brum]. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 13.

Esgotados os modos de expressão, a arte se orienta para o sem-sentido, para um universo privado e incomunicável. Todo estremecimento inteligível, tanto em pintura como em música ou em poesia, nos parece, com razão, antiquado ou vulgar. O público desaparecerá em breve; a arte o seguirá de perto.

Uma civilização que começou com as catedrais tinha que acabar no hermetismo da esquizofrenia.

14 de setembro de 2024

ONFRAY, Michel. A política do rebelde: tratado de resistência e insubmissão. [trad. Mauro Pinheiro]. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. p. 56.

O objetivo permanece indefectivelmente nietzschiano: "Incomodar a estupidez." Sem isso, esta triunfará sozinha e a tal ponto que os autoritarismos do passado parecerão ternos e pálidos ao lado desses que terão conseguido subjugar os cor-pos, certamente, mas também e sobretudo as almas. O fascismo a vir, senão já presente, não se contenta mais em submeter os corpos, ele dispõe de meios para conseguir a sujeição das almas, a partir de hoje, antes de qualquer hipotética tomada de poder no modelo golpista.

11 de setembro de 2024

ONFRAY, Michel. A política do rebelde: tratado de resistência e insubmissão. [trad. Mauro Pinheiro]. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. p. 44.

Uma fenomenologia dos comportamentos nazistas no campo de concentração permitiu a Robert Antelme concluir que não havia diferença de natureza essencial entre o que se passava dentro dos limites de Buchenwald e o que é visível no mundo do trabalho habitual. De uma certa maneira, Jean Améry ilustra esse tema mostrando o quanto o intelectual estava mais despojado dentro do campo do que o trabalhador manual, já habituado, na sua existência quotidiana, a esses regimes de submissão e de exploração, a esse servilismo que transforma os homens em animais de carga, utiliza-os como gado, mercadorias, máquinas. Antelme via dentro do campo de concentração uma pura e simples ampliação, senão uma caricatura extrema, são suas estas expressões, do que se passa dentro do mundo verdadeiro ao qual todos aspiram, fechados em seus blocos.

22 de outubro de 2023

BRAGA, Rubem. "Sobre o amor, desamor". IN: Ai de ti, Copacabana. Sao Paulo: Círculo do Livro, 1985. p. 52.

Mas no meio de tudo isso, fora disso, através disso, apesar disso tudo – há o amor. Ele é como a lua, resiste a todos os sonetos e abençoa todos os pântanos.

Rio, setembro, 1957