14 de junho de 2025

FERNANDES, Millôr. Livro vermelho dos pensamentos de Millôr. Rio de Janeiro: Nórdica, 1974. p. 59.

Não podemos, como profissionais, oferecer ao público que nos frequenta, uma criação que ele também se julgue capaz de realizar. Seria o mesmo que um artesão fabricante de cadeiras nos oferecer uma cadeira feita com três ripas mal pregadas, mal alinhadas e mal envernizadas e nos cobrar por isso um preço profissional. No campo viril do artesanato, isso é impossível, pelo menos a esse ponto absurdo e pelo menos em larga escala. Uma cadeira comprada será sempre melhor do que as que conseguimos fazer em casa com nossas parcas habilidades e ferramentas inadequadas. E, no entanto, sem sombra de dignidade profissional, artistas, jornalistas e, sobretudo, produtores de televisão, não têm vergonha de apresentar ao público espetáculos degradantes como caráter, humilhantes como representação geral do nível artístico do país, e perigosíssimos no sentido de que uma massa de estupidez muito grande acaba embotando mesmo o potencial de inteligência mais privilegiado.

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