12 de março de 2009

Por isso crio


Há que exercitar-se no tornar olvidável
e aplicar muita vez no ouvido algodões;
fazer-se, às catalepsias, impermeável;
aferrar-se a pragmáticas convicções.

Há que agarrar as rédeas de si
e evitar a todo custo tal pilhéria
(digo-o pois já a senti):
"a vida não resiste a uma pergunta séria".

Contradigo-me. Calo meu fundo.
Não deixo vir à tona este inútil mundo.
Uma verdade a que define o Saber
como sendo o bem lidar com o não-saber.

Quero viver, por isso crio
microcertezas num macrovazio.


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BOSCO, Francisco. Atrás da porta. Rio de Janeiro: 7 Letras, 1997. p. 27.

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