21 de março de 2014

Gosto


      É a faculdade de julgar o belo e o feio, o bom e o ruim, como um prazer que seria critério de verdade. O gosto concerne ao corpo, pela sensação, a ao espírito, pela cultura. Ele se educa; não se cria.
      Ele aspira ao universal (tenho a sensação de que todo mundo deveria achar belo, de direito, o que julgo ser tal), mas permanece subjetivo (não tenho nenhum meio de obter, de fato, a concordância de todos). É o que condena quase inevitavelmente ao conflito ou à polêmica. Não se trata de gostar de tudo, de admirar tudo, menos ainda de fingi-lo. "O verdadeiro gosto", dizia Auguste Comte, "sempre supõe um vivo desgosto". E Kant, mais profundamente: "Uma obrigação de gozar é um absurdo evidente". Não se comanda o gosto, já que é ele que comanda.
      Assim, o prazer sempre tem razão, mas não prova nada. Pode-se discutir o gosto (aspirar ao assentimento necessário de outrem), observa Kant, mas não disputar a seu respeito (decidir com base em provas). É o que quase sempre se esquece, e que nos condena, num outro sentido, às disputas..."

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COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário filosófico. [trad. Eduardo Brandão]. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 267-8.

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