É a faculdade de julgar o belo e o feio, o bom e o ruim,
como um prazer que seria critério de verdade. O gosto concerne ao corpo, pela
sensação, a ao espírito, pela cultura. Ele se educa; não se cria.
Ele aspira ao universal (tenho a sensação de que todo mundo
deveria achar belo, de direito, o que julgo ser tal), mas permanece subjetivo
(não tenho nenhum meio de obter, de fato, a concordância de todos). É o que condena
quase inevitavelmente ao conflito ou à polêmica. Não se trata de gostar de
tudo, de admirar tudo, menos ainda de fingi-lo. "O verdadeiro gosto",
dizia Auguste Comte, "sempre supõe um vivo desgosto". E Kant, mais
profundamente: "Uma obrigação de gozar é um absurdo evidente". Não se
comanda o gosto, já que é ele que comanda.
Assim, o prazer sempre tem razão, mas não prova nada.
Pode-se discutir o gosto (aspirar ao assentimento necessário de outrem),
observa Kant, mas não disputar a seu respeito (decidir com base em provas). É o
que quase sempre se esquece, e que nos condena, num outro sentido, às disputas..."
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COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário filosófico. [trad.
Eduardo Brandão]. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 267-8.
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