Se o cristianismo tivesse razão em suas teses acerca de um Deus
vingador, da pecaminosidade universal, da predestinação e do perigo de
uma danação eterna, seria um indício de imbecilidade e falta de caráter
não se tornar padre, apóstolo ou eremita e trabalhar, com temor e
tremor, unicamente pela própria salvação; pois seria absurdo perder
assim o benefício eterno, em troca de comodidade temporal. Supondo que
se creia realmente nessas coisas, o cristão comum é uma figura
deplorável, um ser que não sabe contar até três, e que, justamente por
sua incapacidade mental, não mereceria ser punido tão duramente quanto
promete o cristianismo.
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NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano. [trad. de Paulo César de Souza]. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 95.
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