19 de novembro de 2024

CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. pp. 64-5.

De tudo o que os teólogos conceberam, as únicas páginas legíveis, as únicas palavras verdadeiras, são as dedicadas ao Diabo. Como seu tom muda, como sua eloquência se inflama quando dão as costas à Luz para se consagrar às Trevas! Dir-se-ia que voltam a seu elemento, que o descobrem de novo. Finalmente podem odiar, finalmente lhes é permitido; acabou-se o ronrom sublime ou a salmodia edificante. O ódio pode ser vil; extirpá-lo, no entanto, é mais perigoso que abusar dele. A Igreja, sabiamente, poupou aos seus tais riscos; para que possam satisfazer seus instintos, ela os excita contra o Demônio; eles se agarram a ele e o roem: felizmente é um osso inesgotável... Se lhes fosse tirado, sucumbiriam ao vício ou à apatia.

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