No espírito de Nietzsche, era preciso uma Grande Política, livre das contingências estreitas e mesquinhas daquilo que se convencionou chamar hoje de política politiqueira. Afastada dos cálculos cotidianos, da aritmética em virtude da qual se ascende ao poder e depois lá se mantém, a grande política quer os meios de uma ação e visa à encarnação. O poder, certamente, mas para fazer o quê, senão exprimir, realizar, encarnar uma política, quer dizer, um projeto, ideias, um querer, uma energia. A força se distingue da violência, pois a primeira sabe aonde vai, e a segunda se submete aos impulsos selvagens que a habitam. O capitalismo é uma violência, a política uma força. E a segunda serve como único remédio para a primeira.
28 de novembro de 2024
ONFRAY, Michel. A política do rebelde: tratado de resistência e insubmissão. [trad. Mauro Pinheiro]. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. p. 117.
O reencantamento do mundo só poderá ocorrer visando ao fim de um economismo celebrado sob a forma de religião, entendido como único laço social possível hoje. A submissão da economia à lei da política é uma necessidade vital. Enquanto perdurar o inverso, a lei do mercado triunfará, sozinha, sem contrapartida e, projetados no sentido do abismo, nós conheceremos corridas desenfreadas em direção a mais mortes, sofrimento e dor.
20 de novembro de 2024
CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 81.
CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 93.
CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 87.
CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 89.
Nos empenhamos em abolir a realidade por medo de sofrer. Coroados nossos esforços, é a própria abolição que se revela fonte de sofrimentos.
CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 80.
CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 81.
Quando a ralé adota um mito, conte com um massacre ou, pior ainda, com uma nova religião.
19 de novembro de 2024
CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 65.
Toda crença nos torna insolentes; recém-adquirida, aviva nossos maus instintos; os que não a partilham consideramos fracassados e incapazes, merecedores apenas de nossa piedade e desprezo.
Observe o neófito em política e sobretudo em religião, todos aqueles que conseguiram misturar Deus a suas tramoias, os convertidos, os novos-ricos do Absoluto. Compare sua impertinência com a modéstia e as boas maneiras dos que estão perdendo a fé e as convicções...
CIORAN, Emil. Silogismos da amargura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. pp. 64-5.
De tudo o que os teólogos conceberam, as únicas páginas legíveis, as únicas palavras verdadeiras, são as dedicadas ao Diabo. Como seu tom muda, como sua eloquência se inflama quando dão as costas à Luz para se consagrar às Trevas! Dir-se-ia que voltam a seu elemento, que o descobrem de novo. Finalmente podem odiar, finalmente lhes é permitido; acabou-se o ronrom sublime ou a salmodia edificante. O ódio pode ser vil; extirpá-lo, no entanto, é mais perigoso que abusar dele. A Igreja, sabiamente, poupou aos seus tais riscos; para que possam satisfazer seus instintos, ela os excita contra o Demônio; eles se agarram a ele e o roem: felizmente é um osso inesgotável... Se lhes fosse tirado, sucumbiriam ao vício ou à apatia.