4 de dezembro de 2015

FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. [trad. Mario Laranjeira]. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 296.

      Ele tinha escutado tantas vezes essas coisas, que já não tinham para ele nada de original. Emma era parecida com todas as amantes; e o encanto da novidade, caindo pouco a pouco como uma roupa, deixava ver a nu a eterna monotonia da paixão, que tem sempre as mesmas formas e a mesma linguagem. Ele não distinguia, esse homem tão cheio de prática, a dessemelhança dos sentimentos sob a paridade das expressões. Porque lábios libertinos ou venais tinham murmurado frases iguais, ele só acreditava fracamente no candor delas; dever-se-ia, pensava, desconsiderar os discursos exagerados que escondem as afeições medíocres; como se a plenitude da alma não se derramasse às vezes nas metáforas mais vazias, posto que ninguém, nunca, pode dar a exata medida de suas necessidades, nem de suas concepções, nem de suas dores, e que a palavra humana é como um caldeirão trincado onde batemos melodias para fazer os ursos dançarem, quando se quereria enternecer as estrelas.

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