22 de abril de 2014

Noite

Estou olhando as mulheres passarem na rua em frente deste reles botequim.

O cara me diz, meu irmão, pode descolar uma grana para um sujeito faminto?

Foda-se, respondo.

Eu podia estar assaltando, mas estou pedindo - ele não sabia se ameaçava ou suplicava.

Foda-se, repito.

Não consigo ver bem seu olhos ansiosos de cão vadio; é uma dessas noites escuras, propícia para os pés-rapados foderem as rameiras no cantão e terem um alívio agônico enquanto o dia afinal não chega com ânsias mais horrendas.


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FONSECA, Rubem. Noite. In: ______. Amálgama. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013. p. 13.

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