9 de outubro de 2013

Dizer de novo


repito: é noite, e tudo é noite, noite
até que o som dissolva na matéria
o significado da miséria
dessa noite, somente minha noite
sem vagos sortilégios, sem estrelas
um tempo em tom menor, cotidiano
em que não há esforços vãos nem planos
inúteis para a vida, embora vê-la
desse modo revele algum desejo
mesmo que de dissolução, de fim
de nada que sustente o pouco peso
dos sonhos de uma noite, minha noite
na vida que eu queria fosse assim
inteiramente noite, dia e noite

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FERREIRA, Antonio Geraldo Figueiredo. Peixe e míngua. São Paulo: Nankin Editorial, 2003. p.32.

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