A passagem da infinita perfeição à imperfeita finitude, pela qual Deus, dizem os teólogos, condescende a já não ser tudo. É o que Valery chamava de diminuição divina:
passa-se do mais ao menos ("Deus e todas as criaturas são menos que
Deus só", escreve Simone Weil), do bem absoluto ao mal relativo. Criar,
para Deus, é retirar-se. É a única solução para o problema do mal que me
parece teologicamente satisfatória (mesmo que, filosoficamente, não o
seja de forma alguma). Deus, sendo todo o Bem possível, podia criar
apenas o menos bem que ele - só podia criar o mal. Por que o fez? Por
amor, responde Simone Weil: para nos deixar existir. O mundo nada mais é
que o vazio que daí resulta, como que o vestígio de um Deus ausente.
O vazio eu enxergo, mas não o vestígio.
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COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário filosófico. [trad. Eduardo Brandão]. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 132-3.
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