15 de janeiro de 2010


      Se o artista aceita pagar com sua vida para descer até o fundo da sua noite, não é para fazer uma obra e ser coroado por ela sob os refletores.
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      Daí sua [de Beckett] observação: "Ser um artista é fracassar", e mesmo "ousar fracassar, como nenhum outro ousa fracassar". E fracassar é malograr na busca de uma "forma para o ser". Pois "o ser é fragilidade, caos", e como tal ele ameaça constantemente a forma. Consequência: o ser (a coisa inominável) não se dá senão por meio da falência, do fracasso das formas. A linha geral do artista pode ser, então, definida pelo princípio de uma "fidelidade ao fracasso".


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PRADO JR., Plínio. O evento Beckett. Revista Cult. São Paulo, nº 142, p. 62, dez. 2009.

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