Houvesse deus e os deuses
a fim de que lhes pedisse:
o coração em que penso, por
mais frases e bocas que beije,
todas ache feias e frias, e que,
amanhã, ao despertar, ou à saída
da boate, pense em mim quando
a luz do dia sobre ele se desate.
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FERRAZ, Eucanaã. Cinemateca. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 37.
26 de outubro de 2015
O doido
Diziam, verdade ou não, que fora rico e são
e que a despeito dos bens que possuíra
acabara endividado, falido e torto. Talvez
por isso, embora miserável, a cabeça
reta, o andar
de quem governa e pisa terra extensa e sua
em perambular sob o sol absoluto,
absorvido sabe-se lá por que delírios.
Absorvido sabe-se lá por que delírios,
insultava o vento e o vazio numa agitação
de cabelos e palavras e era comum
vê-lo penteando com seus dedos
encardidos a água das praias,
como se província sua,
como sua líquida mulher ou filha.
Viveu assim, entre feridas e piolhos,
Até que desceu a noite
e uma pedra veio buscá-lo.
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FERRAZ, Eucanaã. Cinemateca. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 127.
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