12 de julho de 2010
Bukowski
não fale sobre o que
você já fez.
não fale sobre o que
você não fez.
não fale.
não dê bom-dia
a alguém com ressaca.
não dê boa-noite
a alguém com insônia.
não dê.
não jogue pedrinhas
na minha janela.
não falseie a voz, Romeu,
não toque o violão.
não faça.
não discuta arte
com poetas mortos.
não se aproxime
dos que se dizem vivos.
não se aproxime.
não me fale sobre
os filmes que você viu.
não cubra esse bocejo
amarelo de agonia.
não cubra.
não guarde panfletos.
não distribua panfletos.
não aceite panfletos.
não seja um panfleto.
não seja.
seja sensível e não sentimental
mas jamais tente ser sensível.
evite discussões filosóficas
mas, se inevitáveis, esteja armado.
não atire!
não pergunte o que uma pessoa disse
depois que ela disser alguma coisa.
se você não entendeu de imediato
não vai entender em um milhão de anos.
não tente.
não fale em alma ou em deus
como se fossem coisas separadas.
não fale em alma ou em deus
como quem falasse de uma arma.
não fale.
tente não ficar velho o bastante
para se sentir velho o bastante.
mas, se isso for inevitável,
compre uma espingarda.
não ouse!
não discuta ou queira entender os fatos.
não leia jornais nem assista ao noticiário.
é sua única chance de escapar ileso, mas
isso não significa que você vai escapar.
não escape.
mergulhe sempre o mais fundo que puder.
não guarde o ar com medo de não ter ar.
não tema.
não se esqueça: acima de tudo
nunca deixe que te digam
o que é certo ou absurdo.
martele o prego da cruz exclusiva,
não pare.
______
MARONA, Leonardo. Pequenas biografias não-autorizadas. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009. p. 39-41.
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